Empresa que matou e poluiu no Golfo do México agora é modelo no pré-sal
Wladmir Coelho
Mestre em Direito e Historiador, Conselheiro e pesquisador da Fundação Brasileira de Direito Econômico
Mestre em Direito e Historiador, Conselheiro e pesquisador da Fundação Brasileira de Direito Econômico
Os danos decorrentes do derramamento de 4 milhões de barris de petróleo no Golfo do México após a explosão de uma plataforma da British Petroleum (BP) ainda não podem ser devidamente analisados. A tragédia, ocorrida em abril de 2010, ainda matou 11 trabalhadores.
Para os olhos o derramamento de petróleo foi superado em função da limpeza superficial das águas e areias, todavia os efeitos ao meio ambiente e economia ainda não podem ser medidos com exatidão. Um exemplo alarmante foi revelado através dos estudos do biólogo Willian Patterson da Universidade de West Florida.
O professor Patterson revela o aparecimento, neste ano de 2011, na região próxima ao acidente, de elevada quantidade de peixes com lesões na pele, apodrecimento das barbatanas, manchas, coágulos de sangue no fígado. O alarme soa mais alto ao acrescentar-se informações relativas ao aumento na quantidade de petróleo encontrado nos peixes constatado por diferentes grupos de pesquisas marinhas.
No campo econômico a BP também aprontou das suas excluindo das indenizações os comerciantes, proprietários de barcos, trabalhadores e turistas contaminados ou atingidos de forma indireta. Um exemplo dramático aplica-se aos proprietários de barcos de pesca e turismo contratados para o esforço de limpeza e contenção do derramamento.
A maior parte destas embarcações foram seriamente avariadas e seus tripulantes apresentam problemas de saúde decorrentes dos produtos químicos utilizados no processo de limpeza. O mesmo ocorre com turistas e moradores atingidos por estes produtos mesmo morando em áreas sem a presença de óleo derramado após a explosão.
A suspensão das atividades de exploração petrolífera em decorrência do acidente no Golfo do México provocou ainda um número gigantesco de demissões, atrasos nos pagamentos dos salários, fechamento de empresas dedicadas ao apoio das atividades nas plataformas. Estes trabalhadores não mereceram a mínima atenção da BP estando a empresa protegida através da Oil Pollution Act que limita as indenizações aos danos provocados por cobertura de óleo. O lobby do petróleo venceu mais uma vez.
Nos Estados Unidos as ações judiciais contra a BP foram consolidadas em 350 processos movidos por governos estaduais (queda na arrecadação), empresas privadas, sindicatos e pessoas físicas.
Do Golfo do México para o pré-sal
Um mês antes da explosão no Golfo do México a BP iniciava o processo para assumir o controle da Devon Energy aspecto que possibilitaria a presença da empresa britânica no cobiçado pré-sal brasileiro. O acidente nos Estados Unidos atrasou este negócio e acabou revelando a irresponsabilidade da BP traduzidos nas palavras de Bob Grahan da comissão estatal encarregada de investigar as causas da explosão: “A ruptura era evitável (...) o compromisso destas empresas deveria ser a segurança”.
As empresas acusadas por Grahan eram, além da BP, a Halliburton e Transocean que preferiram usar material de quinta para aumentar, ainda mais, os lucros. O resultado desta política de eficiência foi a prova cabal da “competência” da iniciativa privada somada a política de desregulamentação econômica.
Passados pouco mais de um ano o negócio entre BP e Devon Energy foi concretizado no Brasil ficando a empresa que não preocupa-se em evitar rupturas, quem afirma não sou eu e sim Bob Grahan, autorizada a perfurar o pré-sal brasileiro.
No Brasil a presença da empresa inglesa foi saudada por Haroldo Lima, presidente da Agência Nacional de Petróleo (ANP) da seguinte forma: “A BP tem provado ser uma das melhores empresas em segurança operacional em águas profundas”. Este autor não estava no local em que tal pronunciamento foi realizado e não sei da reação dos presentes. No mínimo foram profundas gargalhadas ou espanto e silêncio total. Quem souber pode enviar um email informando.
A BP reclamou nas últimas semanas da elevação dos impostos ingleses no setor de exploração do petróleo e ameaça diminuir os investimentos no Mar do Norte. No Brasil deve ser o contrário, pois a mesma empresa aprova tudo inclusive a legislação tributária.
No campo energético, além do petróleo, a BP controla a antiga Companhia Brasileira de Açúcar e Álcool responsável pela produção – para exportação – do combustível “verde e amarelo” ou etanol. Assim caminha a indústria petrolífera.
Fonte: http://sobrenuestramerica.blogspot.com/2011/05/empresa-que-matou-e-poluiu-no-golfo-do.html
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