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sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Educação - Muitas Coisas Estão Erradas

DOCUMENTÁRIOS - ESPECIAL DIA DAS CRIANÇAS


Esta postagem sai com 1 semana de atraso, pois só chegou a mim ontem essa lista de excelentes documentários sobre o mundo infantil.

Agradeço ao meu amigo Eduardo Marinho (http://observareabsorver.blogspot.com.br/) por ter me enviado esse excelente conteúdo.

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Segundo o IBGE, quase 4 milhões de crianças e adolescentes se encontram fora das escolas. Os motivos são muitos, desde o desinteresse escolar, a gravidez precoce ou até o ingresso no mercado de trabalho para ajudar na renda da família.

Em todo o mundo, de acordo com os dados divulgados pela OIT (Organização Internacional do Trabalho), temos 215 milhões, entre crianças e adolescentes, que trabalham, sendo que a metade está exposta à condições degradantes. A exploração sexual, a escravidão, a servidão e atividades em conflitos armados são as principais consequências da ausência escolar e a falta de políticas púbicas, levando nossas crianças a baixo estima e os tornando vulneráveis as propostas ilusórias de enriquecimento e consumo. 

A publicidade voltada para o público infantil colabora com a obesidade, erotização precoce, violência e diminuição da criatividade e de momentos importantes da infância, fora o estresse familiar na qual prometem uma vida feliz cheia de emoção, desde que você possua o que está sendo vendido. Precisamos refletir sobre isso...    


Titulo do vídeo:   Nascidos em bordéis 
Sinopse: Nascidos em Bordéis (Born Into Brothels: Calcutta’s Red Light Kids; 2004) mostra a vida de crianças, filhos de prostitutas, que nascem e crescem em bordéis no bairro da Luz Vermelha, em Calcutá.

Titulo do vídeo:    O Lado Negro do Chocolate / The Dark Side of Chocolate
Sinopse: O chocolate que consumimos é produzido com o uso de trabalho infantil e tráfico de crianças? O premiado jornalista dinamarquês, Miki Mistrati, decide investigar os boatos. Sua busca atrás de respostas o leva até Mali, na África Ocidental, onde câmeras ocultas revelam o tráfico de crianças para as plantações de cacau da vizinha Costa do Marfim. A Costa do Marfim é o maior produtor de cacau, respondendo por cerca de 40% da produção mundial. Empresas como a Nestlé, Barry Callebaut e Mars assinaram em 2001 o Protocolo do Cacau, comprometendo-se a erradicar totalmente o trabalho infantil no setor até 2008. Será que o seu chocolate tem um gosto amargo? Acompanhe Miki até a África para expor "O Lado Negro do Chocolate".

Titulo do vídeo:    Crianças de Gaza - Children of Gaza
Sinopse: Durante a incursão israelita na Faixa de Gaza em dez 2008 a jan 2009 (operação chumbo grosso), grupos humanitários estimam que cerca de 1.000 crianças foram feridas e 300 foram mortas.
Este documentário mostra a opressão de Israel na visão humana, sensível e delicada de Omsyatte, Ibrahim, Amal e Mahmud, crianças palestinas como quaisquer outras, testemunhas do horror, vítimas da crueldade, orfãs de de um lugar que já foi um país. Elas são tolhidas de qualquer sonho, e de qualquer perspectiva decente de futuro.
A realidade das crianças palestinas de hoje está em ver seus pais e seus irmãos sendo mortos, suas casas sendo derrubadas, suas escolas bombardeadas.
Para piorar, Israel impõe um bloqueio econômico sobre a nação, gerando mais desespero e miséria para os palestinos.
Diante desse cenário absurdo, muitas crianças deixam de fazer o que faz a maioria das crianças: sonhar.

Titulo do vídeo:   Criança - A alma do negócio
Sinopse: Este documentário reflete sobre estas questões e mostra como no Brasil a criança se tornou a alma do negócio para a publicidade. A indústria descobriu que é mais fácil convencer uma criança do que umn adulto, então, as crianças são bombardeadas por propagandas que estimulam o consumo e que falama diretamente com elas. O resultado disso é devastador: crianças que, aos cinco anos, já vão à escola totalmente maquiadas e deixaram de brincar de correr por causa de seus saltos altos; que sabem as marcas de todos os celulares mas não sabem o que é uma minhoca; que reconhecem as marcas de todos os salgadinhos mas não sabem os nomes de frutas e legumas. Num jogo desigual e desumano, os anunciantes ficam com o lucro enquanto as crianças arcam com o prejuízo de sua infância encurtada. Contundente, ousado e real este documentário escancara a perplexidade deste cenário, convidando você a refletir sobre seu papel dentro dele e sobre o futuro da infância.

Titulo do vídeo:   Consuming Kids / Crianças de Consumo
Sinopse: Documentário de como a Publicidade, os Meios de Comunicação Social e o Marketing usam e influenciam as crianças a serem Mega-Consumidoras. As tácticas e manobras manipuladoras para conseguirem, o que eles indicam, o melhor mercado humano, as crianças. A Ciência está a ser usada para dissecar as crianças para criar novas formas de as enganar, novas formas de as estupidificar.

Titulo do vídeo:   A Ira de um Anjo (Child of Rage)
Sinopse: Este documentário é uma compilação das filmagens das sessões de terapia do Dr. Ken Magid, psicólogo clinico especializado no tratamento de crianças severamente abusadas. O relato de Beth, 6 anos, é perturbador, mostra os efeitos devastadores de abuso em uma criança. Recomenda-se que não seja assistido por pessoas sensíveis. 

Titulo do vídeo:   A Invenção da Infância
Sinopse: Ser criança não significa ter infância. Uma reflexão sobre o que é ser criança no mundo contemporâneo.

Titulo do vídeo:  Promessas De Um Novo Mundo
Sinopse: Um documentário fascinante e emocionante onde tenho certeza que aqueles que assistirem por completo irão surpreender-se com lágrimas rolando dos olhos.Criado por B.Z.,o documentário retrata o outro lado por trás do ódio alimentado entre primos distantes (Israelenses e Palestinos) que brigam de forma incessante entre si pela herança das terras de Israel, estando no meio de tudo isso, crianças inocentes que pensam de uma maneira diferente de seus pais em relação ao psêudo-inimigo que deveria gerar-lhes terror e algeriza. Um documentário surpreendente que mostra que as crianças querem viver simplesmente como crianças,confiram!Grande abraço!

Titulo do vídeo:   War Dance Uganda
Sinopse: Três crianças que vivem em um campo de deslocamento no norte de Uganda competir na música nacional de seu país e de dança festiva.

Titulo do vídeo:   Crianças no Furacão 
Sinopse: O documentário de 52 minutos abrange entrevistas com 12 pessoas que eram crianças no período que vai do golpe de 1964 até a Abertura, em 1982. A memória de quem viveu o cotidiano do regime militar brasileiro, em razão do envolvimento de familiares na trama política da época.
A perspectiva da abordagem das entrevistas é a percepção através da ótica da criança. O documentário busca o registro das sensações e reações diante de eventos concretos, compondo um painel diferente da frieza do conteúdo dos livros ou do distanciamento de quem olha de fora e avalia os estragos. 
O filme é uma realização da Fundação Joaquim Nabuco - Ministério da Educação.

Titulo do vídeo:    BEBÊS
Sinopse: Este filme visualmente deslumbrante nova simultaneamente segue quatro bebês em todo o mundo - desde a primeira respiração para primeiros passos. Da Mongólia à Namíbia para San Francisco a Tóquio, BEBÊS alegria captura em filme os primeiros estágios da jornada da humanidade, que são ao mesmo tempo único e universal para todos nós.

Titulo do vídeo:   "Meu eu secreto" ("My Secret Self") 
Sinopse: O documentário fala de três jovens portadores da síndrome do transtorno de identidade de gênero(também conhecidos como disfóricos ou transgêneros ou transexuais ), tendo o mais velho 17 anos e a mais nova 6 anos. A vida em família, a descoberta do problema, as causas, as adaptações, a aceitação.

Titulo do vídeo:   Gravidez na Adolescência
Sinopse:

Titulo do vídeo:   Crianças do Tsunami
Sinopse: O documentário reúne depoimentos de crianças japonesas sobre suas impressões do desastre natural que abalou o país em março de 2011, além de suas experiências e perspectivas durante e após o terremoto.

Titulo do vídeo:   Esperando pelo Super-Homem (Completo - Legendado)
Sinopse: Um filme que todo educador (ou burocrata da educação) deveria assistir.
O sistema público de ensino nos EUA está a pique, gerações inteiras irão se perder. Crianças sendo afastadas de oportunidades de vida, ficando vulneráveis ao que uma existência sem estudos pode acarretar. 
O documentário mostra que a receita para mudar os péssimos resultados das escolas públicas é simples: maior carga horária, mais salas de aulas por alunos, mais motivação aos professores. Mas apesar de ser simples, tem-se que lutar contra o sistema...
Há grandes exemplos dos que desafiaram esse sistema em locais onde o nível de aprendizado o mais baixo da região, onde era quase impossível levar algum aluno à Universidade, conseguiu-se que mais de 90% dos seus alunos conseguissem esse feito.

Titulo do vídeo:   AUTISMO: FABRICADO NOS EUA - 2009 (Autism: Made in the U.S.A.) 
Sinopse: Excelente documentário de alerta sobre essa doença que destrói a vida de crianças. Há um volume enorme de pesquisas indicando ser o autismo uma das consequências funestas da presença de mercúrio em vacinas.
Assista o documentário, pesquise o tema Mercúrio e autismo, há muita informação a respeito.
Ha um ditado que diz: quer saber o culpado? Siga a trilha do dinheiro.
Vacinas são uma fonte ENORME de lucros para os cartéis farmacêuticos. Na verdade TODAS as doenças são fontes de renda para eles.
Titulo do vídeo:   Meu Filho Bipolar 
Sinopse: Este especial acompanha quatro famílias com filhos diagnosticados com transtorno bipolar e mostra como essa condição afeta significamente suas vidas.

Titulo do vídeo:   Crianças Capazes
Sinopse: No documentário CRIANÇAS CAPAZES, jovens que já passaram pelo Cedet(Centro de Desenvolvimento do Potencial e Talento) e crianças que frequentam as oficinas atualmente dão depoimentos sobre a chance de experimentar algo tão diferente do dia-a-dia escolar. São entrevistados ainda pais, professores das escolas públicas e monitores de oficinas. O documentário aborda também o risco de aliciamento das crianças capazes pelo crime organizado.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Financiamento privado de campanhas políticas (como comprar um político)

http://forum.antinovaordemmundial.com


Com muita competência, o economista Ladislau Dowbor, faz uma análise apurada (e muito bem fundamentada) dos impactos relacionados ao financiamento das campanhas políticas. Trata-se uma prática legalizada no Brasil, mas que consiste em uma legalização truculenta de um crime que alcançou proporções colossais (muito conveniente para a elite financeira). Os efeitos são catastróficos e sistêmicos. Podemos senti-los no sucateamento das instituições públicas e na precarização dos serviços sociais. Eis que o artigo nos revela o centro de toda a corrupção neste país...

Os descaminhos do dinheiro: a compra das eleições

Ladislau Dowbor

Fonte: Carta Maior

[Imagem: foto_mat_38088.jpg]

No quadro acima, o crescente custo das campanhas nos Estados Unidos, segundo The Economist, Sept. 8th-14th p. 61


“The idea that in a democracy you should be able to trade your wealth
into more influence over what the government does is just wrong.”Lawrence Lessig [1]

“Les vices n’appartiennent pas tant à l’homme qu’à l’homme mal gouverné”
Rousseau [2]

Transformar o exercício da justiça em espetáculo midiático não é correto nem ético. Fazê-lo em nome da ética, menos ainda. Para muita gente, parece tratar-se de uma catarse política, canalização de ódios acumulados. Não se resolve grande coisa desta maneira. e gera-se sim dinâmicas perigosas. E sobre tudo, canaliza-se toda a energia contra pessoas, obscurecendo os vícios do sistema. O sistema agradece, e permanece. A realidade, é que há um imenso desconhecimento, por parte de não economistas, de como se dão os grandes vazamentos de recursos públicos.

Bem, vamos por partes. Primeiro, a grande corrupção, a grande mesmo, aquela que é tão grande que se torna legal. Trata-se do financiamento de campanhas. A empresa que financia um candidato – um assento de deputado federal tipicamente custa 2,5 milhões de reais – tem interesses.

Estes interesses se manifestam do lado das políticas que serão aprovadas, por exemplo contratos de construção de viadutos e de pistas para mais carros, ainda que se saiba que as cidades estão ficando paralisadas. As empreiteiras e as montadoras agradecem. Do lado do candidato, apenas assentado, já lhe aparece a preocupação com a dívida de campanha que ficou pendurada, e a necessidade de pensar na reeleição. Quatro anos passam rápido. Entre representar interesses legítimos do povo – por exemplo, mais transporte coletivo, mais saúde preventiva – e assegurar a próxima eleição, ele que estudou economia ou direito, e por tanto sabe fazer as contas e sabe quem manda, está preso numa sinuca.

O próprio custo das campanhas, quando estas viram uma indústria de marketing político, é cada vez mais descontrolado. Segundo The Economist, no caso dos EUA, os gastos com a eleição de 2004 foram de 2,5 bilhões de dólares, em 2010 foram de 4,5 bilhões, e a estimativa para 2012 é de 5,2 bilhões. Isto está “baseado na decisão da corte suprema em 2010 que permite que empresas e sindicatos gastem somas ilimitadas em marketing eleitoral”. Quanto mais cara a campanha, mais o processo é dominado por grandes contribuintes, e mais a política se vê colonizada. O resultado é a erosão da democracia. E resultam também custos muito mais elevados para todos, já que são repassados para o público através dos preços. [3]

Comentando os dados dos gastos corporativos na campanha eleitoral de 2010, Robert Chesney e John Nichols, da universidade de Illinois, escrevem que os financiamentos corporativos “se traduziram numa virada espetacular para a direita: a captura da vida política por uma casta financeira e midiática mais poderosa do que qualquer partido ou candidato.

Não se trata apenas de um novo capítulo no interminável romance entre o dinheiro e o poder, mas de uma redefinição da própria política pela conjunção de dois fatores: o fim dos limites de doações eleitorais por parte das empresas e a renúncia por parte da imprensa ao exame dos conteúdos das campanhas. Resulta um sistema no qual um pequeno círculo de conselheiros mobiliza montantes surrealistas para orientar o voto para os seus clientes. Este ‘complexo eleitoral dinheiro-mídia’ constitui presentemente uma força temível, subtraída a qualquer forma de regulação, liberada de qualquer obrigação de prudência por uma imprensa que capitulou. Esta máquina é permanentemente mediada por cadeias comerciais de televisão que faturaram, em 2010, 3 bilhões de dólares graças à publicidade política”. [4]

No Brasil este sistema foi legalizado em governos anteriores. A lei que libera o financiamento das campanhas por interesses privados é de 1997. [5] Podem contribuir com até 2% do patrimônio, o que representa muito dinheiro. Os professores Wagner Pralon Mancuso e Bruno Speck, respectivamente da USP e da Unicamp, estudaram os impactos. “Os recursos empresariais ocupam o primeiro lugar entre as fontes de financiamento de campanhas eleitorais brasileiras. Em 2010, por exemplo, corresponderam a 74,4%, mais de R$ 2 bilhões, de todo o dinheiro aplicado nas eleições (dados do Tribunal Superior Eleitoral)”. [6]

E a deformação é sistêmica: além de amarrar os futuros eleitos, quando uma empresa “contribui” e por tanto prepara o seu acesso privilegiado aos contratos públicos, as outras se vêm obrigadas a seguir o mesmo caminho, para não se verem alijadas. E o candidato que não tiver acesso aos recursos, simplesmente não será eleito. Todos ficam amarrados. Começa a girar a grande quantidade de dinheiro no sistema eleitoral. Criminalizar as empresas, ou as pessoas, não vai resolver, ainda mais se os criminalizados são apenas de um lado do espectro político. É preciso corrigir o sistema.

Mas custos econômicos incomparavelmente maiores resultam do impacto indireto, pela deformação do processo decisório na máquina pública, apropriada por corporações. O resultado, no caso de São Paulo, por exemplo, de eleições municipais apropriadas por empreiteiras e montadoras, são duas horas e quarenta minutos que o cidadão médio perde no trânsito por dia. Só o tempo perdido, multiplicando as horas pelo PIB do cidadão paulistano e pelos 6,5 milhões que vão trabalhar diariamente, são 50 milhões de reais perdidos por dia. Se reduzirmos em uma hora o tempo perdido pelo trabalhador a cada dia, instalando por exemplo corredores de ônibus e mais linhas de metrô. serão 20 milhões economizados por dia, 6 bilhões por ano se contarmos os dias úteis. Sem falar da gasolina, do seguro do carro, das multas, das doenças respiratórias e cardíacas e assim por diante. E estamos falando de São Paulo, mas temos Porto Alegre, Rio de Janeiro e tantos outros centros. É muito dinheiro. Significa perda de produtividade sistêmica, aumento do custo-Brasil.

Este tipo de corrupção leva a que se deformem radicalmente as prioridades do país, que se construam elefantes brancos. A deformação das prioridades mediante desvio dos recursos públicos daquilo que é útil em termos de qualidade de vida para o que é mais interessante em termos de contratos empresariais, gera um círculo vicioso, pois financia a sua reprodução.

Uma dimensão importante deste círculo vicioso, e que resulta diretamente do processo, é o sobre-faturamento. Quanto mais se eleva o custo financeiro das campanhas, conforme vimos acima com os exemplos americano e brasileiro, mais a pressão empresarial sobre os políticos se concentra em grandes empresas. Quando são poucas, e poderosas, e com muitos laços políticos, a tendência é a distribuição organizada dos contratos, o que por sua vez reduz a concorrência pública a um simulacro, e permite elevar radicalmente o custo dos grandes contratos. Os lucros assim adquiridos permitirão financiar a campanha seguinte.

Se juntarmos o crescimento do custo das campanhas, os custos do sobre-faturamento das obras, e sobre tudo o custo da deformação das grandes opções de uso dos recursos públicos, estamos falando em muitas dezenas de bilhões de reais. Pior: corrói o processo democrático, ao gerar uma perda de confiança popular nos processos democráticos em geral.

Não que não devam ser veiculados os interesses de diversos agentes econômicos. Mas para a isto existem as associações de classe e diversas formas de articulação. A FIESP, por exemplo, articula os interesses da classe industrial do Estado de São Paulo, e é poderosa. É a forma correta de exercer a sua função, de canalizar interesses privados. O voto deve representar cidadãos. Quando se deforma o processo eleitoral através de grandes somas de dinheiro, é o processo democrático que é deformado.

A moral da história é simples. Comprar votos é ilegal. Vincular o candidato com dinheiro não é ilegal. Já comprar o voto do candidato eleito é de novo ilegal. A conclusão é óbvia: vincula-se os interesses do candidato à empresa, o que é legal, e tem-se por atacado quatro anos de votação do candidato já eleito, sem precisar seduzi-lo a cada mês [7]. O absurdo não é inevitável. Na França, a totalidade dos gastos pelo conjunto dos 10 candidatos à presidência em 2012 foi de 74,2 milhões de euros. [8]

A grande corrupção gera a sua própria legalidade. Já escrevia Rousseau, no seu Contrato Social, em 1762, texto que hoje cumpre 250 anos: “O mais forte nunca é suficientemente forte para ser sempre o dono, se não transformar a sua força em direito e a obediência em dever” [9]. Em 1997, transformou-se o poder financeiro em direito. O direito de influenciar as leis, às quais seremos todos submetidos. Ético mesmo, é reformular o sistema, e acompanhar os países que evoluíram para regras do jogo mais inteligentes, e limitaram drasticamente o financiamento corporativo das campanhas.

(*) Ladislau Dowbor, economista, é professor da PUC de São Paulo, e consultor de várias agências das NNUU. http://dowbor.org

NOTAS
[1] “A ideia que numa democracia você deveria poder trocar a sua riqueza por maior influência sobre o que faz o governo é simplesmente errada” – Lawrence Lessig – Republic Lost: how money corrupts congress – and a plan to stop it – Twelve, New York, 2011, p. 313

[2] “Os vícios não pertencem tanto ao homem, quanto ao homem mal governado” – J.J. Rousseau, Narcisse

[3] Ver dados completos em The Economist, Of Mud and Money, September 8th 2012, p. 61; Sobre esta decisão da corte suprema americana, Hazel Henderson produziu uma excelente análise intitulada “Temos o melhor congresso que o dinheiro pode comprar” (We have the best congress money can buy).

[4] Robert W.McChesney e John Nichols – Et les spots politiques ont envahi les écrans – Le Monde Diplomatique, Manière de Voir, n. 125, Où va l’Amérique, Octobre-Novembre 2012, p. 62 – A liberação do financiamento corporativo das campanhas eleitorais foi conseguida pelo lobby conservador Citizens United, junto à Corte Suprema dos Estados Unidos, em 21 de janeiro de 2010, em nome da “liberdade de expressão”.

[5] O financiamento está baseado na Lei 9504, de 1997 "As doações podem ser provenientes de recursos próprios (do candidato); de pessoas físicas, com limite de 10% do valor que declarou de patrimônio no ano anterior no Imposto de Renda; e de pessoas jurídicas, com limite de 2%, correspondente [à declaração] ao ano anterior", explicou o juiz Marco Antonio Martin Vargas, assessor da Presidência do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) de São Paulo.” – Revista Exame, 08/06/2010, Elaine Patricia da Cruz, Entenda o financiamento de campanha no Brasil.

[6] “Pouquíssimos candidatos conseguem se eleger com pouco ou nenhum dinheiro”, comenta Mancuso, que coordena o projeto de pesquisa Poder econômico na política: a influência de financiadores eleitorais sobre a atuação parlamentar. Ver em Bruna Romão, Agência USP.

[7] No plano propositivo, há um excelente trabalho de Lawrence Lessig, professor de direito da Universidade de Harvard, Republic Lost: how money corrupts Congress and a plan to stop it, Twelve, New York 2011, em particular p. 266 e seguintes.

[8] Le Monde Diplomatique, Manière de Voir, Où va l’Amérique, Octobre-Novembre 2012, p.11

[9] “Le plus fort n’est jamais assez fort pour être toujours le maître, s’il ne transforme sa force en droit et l’obéissance en devoir”. Du Contrat Social, 1762. “Maître” em francês é muito mais forte do que “mestre” em português, implica força, controle.