Todos, quase todos, sabem que a atual crise econômica teve início com o estouro de uma gigantesca bolha especulativa no setor imobiliário, em setembro de 2008, nos Estados Unidos. Mas é só isso? Não haverá causas globais e estruturais que expliquem melhor a presente depressão de praticamente todas as economias do mundo? Não seria, enfim, o caso de estudarmos melhor o fenômeno descrito como o das crises cíclicas que acometem periodicamente (grosso modo a cada dez anos) o sistema (modo de produção) capitalista?
Esta coluna tentará dar resposta a estas perguntas.
26-07-11
Arrogantes e insensatos, americanos ensaiam a Crise Mãe
A mídia está tratando esta questão do iminente calote dos EUA, como uma imperdoável leviandade dos políticos americanos que, por questões eleitorais, estão brigando à beira do abismo e colocando toda a economia mundial em risco.
É uma verdade, mas não é toda a verdade. Por trás desta disputa entre o presidente Obama e os republicanos, que controlam a Câmara dos Representantes (dos deputados), há uma insuperável questão ideológica: os republicanos e não só os mais radicais, acreditam sinceramente que toda e qualquer solução econômica deve ser entregue às leis do Mercado e não à ação do Governo. Aliás, os neoliberais brasileiros, também pensam assim.
É a velha proposta do Estado Mínimo. Quando estourou a Grande Crise Americana de setembro de 2008 (que é sistêmica e terminal) as lideranças políticas republicanas e seus principais ideólogos, disseram claramente: deixa quebrar, mesmo que haja temporariamente desemprego e sofrimentos humanos, o Mercado se encarregará de ajustar as coisas logo mais adiante. A economia tem capacidade de auto-regeneração e sempre foi assim, com alternância de picos de crescimentos eufóricos e vales depressivos.
Nos quatro anos anteriores, Bush filho seguira à risca esta receita: diminuiu a ação social do Estado e eliminou alguns impostos cobrados ao Grande Capital que, assim, poderia investir mais e gerar empregos. Em seguida, partiu para a guerra no Iraque e no Afeganistão, enquanto o Grande Capital (controlado já pelo segmento financeiro) partia para a construção meticulosa da maior bolha especulativa de todos os tempos. Deu no que deu.
O papa de todas estas teorias cretinas que gente como Míriam Leitão e Carlos Alberto Sardenberg repetem e à exaustão e de forma de nauseante e simplória é o economista americano Milton Freidman, Prêmio Nobel (1976) e autor da “bíblia” Capitalismo e Liberdade.
Freidman, além de pregar (contrapondo-se a Keynes) o Estado Mínimo e o Mercado Máximo, teve a habilidade ou malícia, como o título sugere, de afirmar que capitalismo é sinônimo de liberdade. Na verdade, porém, a maior afinidade do capitalismo puro e fundamentalista (a seleção social natural – que vença o mais forte) e com o nazismo puro.
A Bíblia 2 dos republicanos e parte dos neoliberais americanos é a obra “O Choque das Civilizações” (1996) do polêmico e ousado economista e cientista político Samuel Huntington que desde a Era Reagan vem sendo conselheiro formal ou informal de todos os presidentes republicanos.
Ele defende, em síntese, que, na virada do século, as guerras religiosas substituiriam as ideológicas. É nesse sentido que, para grande parte dos norte-americanos, a guerra contra o islamismo (que para eles se confunde com o terrorismo moderno), faz todo o sentido. Aliás, para parte da mídia brasileira mais exaltada também faz. Tanto que ela alinha-se automaticamente ao conteúdo editorial da mídia americana que é, por sua vez, ditado pelo Departamento de Estado.
Como se vê, esta briga entre Obama e os republicanos vai muito além de uma simples disputa eleitoral. E segue a novela:
Barack Obama fez ontem (25) um apelo desesperado em rede nacional de TV para que haja um comprometimento de republicanos e democratas com um acordo para elevar o teto da dívida pública do país, hoje em US$ 14,3 trilhões. O prazo fatal para a declaração de inadimplência (calote de consequências imprevisíveis) é 2 de agosto.
Momentos após o discurso de Obama, o presidente da Câmara, o republicano John Boehner, disse que os Estados Unidos não podem suspender os pagamentos, mas também não se pode dar um “cheque em branco” ao governo.
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