Escrito por
Grupo de São Paulo
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Sexta, 09 de
Novembro de 2012
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Na política,
como na vida, mas principalmente na política externa, acontecimentos
aparentemente independentes podem estar concatenados para o alcance de um único
objetivo.
Este artigo
destaca alguns fatos que estão a ocorrer em diferentes regiões do planeta:
aviões sem pilotos, ataques cibernéticos, neogolpismo na América Latina e
agravamento do confronto entre potências nucleares. Existe uma lógica comum a
todos eles. Identificá-la é o objetivo central destas linhas.
“Evolução da
arte da guerra” é o eufemismo utilizado pelo Pentágono quando se refere aos drones e aos ataques cibernéticos.
Os drones (zangões), ou UAV – Unmanned Aerial
Vehicle (veículo
aéreo não tripulado) –, são robôs de sofisticada tecnologia – pequenas aeronaves sem
piloto. Este tipo de armamento tem sido crescente e intensamente utilizado em
bombardeios no Afeganistão e no Paquistão, e também na Palestina, no Iêmen e
na Somália.
Essa forma
de agressão tem sido defendida e elogiada (cinicamente) por parte dos
generais do Pentágono: é barata, não faz vítimas entre os soldados
estadunidenses, tem grande mobilidade e apresenta baixo índice de efeitos
colaterais (outro eufemismo, este para designar a morte indiscriminada da
população civil).
Em artigo
publicado no Jornal Brasil de Fato (15/08/2012), Miguel Urbano Rodrigues relata os
seguintes fatos: já em 2003, o número de drones atingia a cifra de sete milhares
(imaginem quantos existem atualmente); eles podem ser acionados de qualquer
lugar, inclusive de porta aviões; esses robôs estão equipados com diversas
armas, entre elas mísseis Halfi e Scorpion, de alto poder destrutivo. O
balanço dos ataques a aldeias tribais paquistanesas, planejados e controlados
pela CIA, indica muitas vítimas civis. Para cada suposto terrorista abatido,
dez camponeses são mortos.
O governo do
presidente Obama está cada vez mais envolvido nesse tipo de ação bélica. Além
de autorizar a utilização massiva de drones, o presidente deu apoio a uma iniciativa
de alteração dos regulamentos de guerra. Essa postura presidencial significa
autorização do uso “de força letal” longe das zonas de guerra, ou seja,
assassinatos em países estrangeiros de cidadãos tidos como “perigosos” para a
segurança dos EUA (legalização do assassinato, tal qual a legalização da
tortura na era Bush).
Outra forma
de agressão desenvolvida e utilizada pelos Estados Unidos são os ataques
cibernéticos. Para o Pentágono – palavras do subsecretário de Defesa William
Lynn –, o ciberespaço é um novo “teatro de guerra”. Para o planejamento e
execução desse novo tipo de agressão, foi instituído o Ciber
Comand, subunidade
do Comando Estratégico das Forças Armadas.
Exemplo
desses ataques (de evidente cunho terrorista) foi praticado contra o Irã no
contexto de pré-guerra gerado pelos EUA. Os iranianos haviam alcançado a
capacidade tecnológica de enriquecer urânio natural, ou seja, gerar
combustível nuclear para a produção de energia. Em 2010, ocorreu um ataque
cibernético contra o parque de ultracentrifugadoras de Natanz, responsável
pela produção iraniana. Como informa Miguel Urbano: cerca de “mil
centrifugadoras foram inutilizadas pela operação de pirataria cibernética que
utilizou o vírus Stuxnet”. Esse vírus, até então desconhecido, resultou de um
projeto estadunidense-israelense.
A América
Latina tem sido palco de uma nova e dissimulada modalidade de agressão
política, via diplomacia – o neogolpismo. Ela substitui a antiga forma de
intervenção violenta dos anos 1960 e 1970. Basta lembrar o que ocorreu em
todo Cone Sul: ditaduras sangrentas, prisões, torturas, assassinatos,
desaparecimentos e tantos outros horrores, sob a tutela norte-americana.
O
neogolpismo consiste na aparente legalidade do processo de deposição de um
presidente. O caso do Paraguai é o exemplo mais recente. Velhos personagens
se uniram na montagem e execução de uma farsa de processo democrático para
destituir o presidente Lugo, legitimamente eleito pelo povo em histórica
jornada que, supunha-se, poria fim a quase seis décadas da ditadura
Stroessener/Partido Colorado. A velha oligarquia colorada apoiada pela Igreja
católica, somada aos interesses do capital estrangeiro (leia-se,
principalmente agronegócio da soja, inclusive brasileiro) e forças armadas,
não esperaram o iminente fim do mandato. No lugar do presidente eleito, foi
colocado um títere. Todos esses tristes personagens não passam de fantoches
manipulados pelos interesses do governo norte-americano na região.
O caso
paraguaio não foi o primeiro. Foi antecedido pela tentativa de golpe contra o
presidente Chávez, da Venezuela, e pela destituição de Zelaya, em Honduras.
O embaixador
Samuel Pinheiro Guimarães, em artigo para a Carta Maior, alerta que não há
forma de se entender as peripécias da política na América do Sul (e Caribe)
sem levar em conta a política dos EUA para a região, cujo objetivo
estratégico central é incorporar todos os países à sua economia, o que,
evidentemente, implica em submissão política e econômica. Para tanto, vale
tudo.
A lógica
comum a todos os fatos aqui relatados – que não esgotam o assunto, pois há
outras formas de guerra (química, bacteriológica, nanotecnológica) – é o
recrudescimento da agressão imperialista norte-americana – Estado
Militarista.
A propósito,
nos dias atuais cresce perigosamente a tensão política internacional. Os
Estados Unidos ameaçam atacar a Síria sem o aval do Conselho de Segurança da
ONU, como em Kosovo. A Rússia, com o apoio da China, reage e avisa que não aceitará
tal intervenção. Putin parece sinalizar que fez da Síria a linha vermelha que
não pode ser cruzada. A insânia ameaça prevalecer entre potências nucleares.
José Juliano de Carvalho Filho, Elisa Helena
Rocha de Carvalho, Guga Dorea, Frei João Xerri, Silvio Mieli, Thomaz Ferreira
Jensen, do Grupo de São Paulo – um grupo de pessoas que se revezam na redação
e revisão coletiva dos artigos de análise de Contexto Internacional do
Boletim da Rede, editado pelo Centro Alceu Amoroso Lima para a Liberdade, de
Petrópolis, RJ. Artigo publicado no Boletim Rede.
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sexta-feira, 9 de novembro de 2012
EUA: Diplomacia da Bala
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