06/11/201219h47 > Atualizada 06/11/201222h30
Os deputados federais aprovaram, na noite desta terça-feira (6), a
íntegra do projeto aprovado no Senado sobre divisão dos royalties do petróleo,
rejeitando o substitutivo do relator do assunto na Câmara dos Deputados, o
deputado Carlos Zarattini (PT-SP), proposta defendida pelo governo
federal. Agora, o projeto vai para sanção ou veto da presidente Dilma Rousseff.
Por 286 votos a favor e 124 contra, a Casa aprovou o texto-base do
Senado, de autoria do relator Vital do Rêgo (PMDB-PB). Todos os destaques apresentados
por deputados para alterar a proposta do Senado foram rejeitados.
Na proposta aprovada, as mudanças sugeridas por Zarattini, como a
obrigatoriedade do uso dos royalties para investimento em educação e o
percentual distribuído para os entes federativos, foram rejeitadas.
Na versão do Senado, não há especificação do quanto será destinado para
cada área, e apenas são citados os setores beneficiados com os recursos dos
royalties. São eles "educação, infra-estrutura social e econômica, saúde,
segurança, programas de erradicação da miséria e da pobreza, cultura, esporte,
pesquisa, ciência e tecnologia, defesa civil, meio ambiente, programas voltados
para mitigação e adaptação às mudanças climáticas e para o tratamento e
reinserção de dependentes químicos."
A expectativa antes da sessão era de que os deputados votassem o
substitutivo proposto pelo deputado petista, mas, por 220 votos a favor, 211
contra e uma abstenção, os parlamentares decidiram usar o texto do Senado como
referência.
ENTENDA A VOTAÇÃO SOBRE
OS ROYALTIES DO PETRÓLEO
Depois de muita discussão e adiamentos, os deputados federais iniciaram
a votação do projeto que trata da distribuição dos royalties do petróleo. Os
royalties são a compensação ou parte do lucro paga ao detentor de um direito –
nesse caso, o direito à exploração do petróleo.
Mudanças
Pelo texto de Vital do Rêgo, que foi aprovado no Senado em outubro do
ano passado, a União tem sua fatia nos royalties reduzida de 30% para 20% já em
2012. Para os Estados produtores, a participação cai de 26,25% para 20%.
Já os municípios produtores (confrontantes) são os que sofrem maior
redução: de 26,25% passam para 17% em 2012 e chegam a 4% em 2020. Os
municípios afetados pela exploração de petróleo também sofrem cortes: de 8,75%
para 2%.
A proposta do senador paraibano prevê ainda que todos os Estados e
municípios --incluindo produtores e não-produtores-- dividiram 40% dos
royalties do petróleo, ante 8,75% da proposta anterior.
O substitutivo prevê também a redistribuição da participação especial.
Neste caso, a União, mais uma vez, abre mão de parte de seus recursos. Os 50% a
que tem direito hoje passam a ser 42% em 2012. A partir daí, com a expectativa
de aumento das receitas, a União volta a ter sua alíquota ampliada ano a ano,
até chegar aos 46% propostos inicialmente pelo governo.
Motivos da
reviravolta
Para o líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), a mudança
do texto da Câmara com relação ao do Senado foi consequência da pressão da CNM
(Confederação Nacional dos Municípios) em cima dos prefeitos e destes em
relação sobre os parlamentares de seus Estados.
“É fácil defender municípios [em referência ao argumento da CNM]. Os
parlamentares dependem de votos e ninguém quer sequer parecer que está contra
os interesses dos municípios, mas contraditoriamente, podem estar",
afirmou Chinaglia.
Já o relator do projeto na Câmara, Carlos Zarattini, fez declarações
indignadas sobre o assunto. “Eles [a CNM] apresentaram falsas tabelas e engaram
os prefeitos e diziam que não haveria perdas [com texto do Senado]”,
afirmou.
Procurado pela reportagem, o presidente da CNM, Paulo Ziulkoski, não
retornou aos contatos. No entanto, em entrevista à agência CNM, ele afirmou que
a proposta de Zarattini retirava do fundo especial (destinado para todos Estados
e municípios com base no FPM e FPE) mais de R$ 9 bilhões no período de 2013 e
2015. “No mesmo período, o Fundo de Participação dos Estados e Municípios
perderia o equivalente a mais de R$ 4,5 bilhões”, argumentou em entrevista à
agência.
Para o presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), a decisão tomada foi
soberana e "distribui os royalties e que dá aos Estados e municípios as
condições de aplicar esses royalties em ciência e tecnologia, saúde,
infraestrutura e também em educação”.
“Não estou dizendo que a proposta é melhor, eu estou dizendo que foi a
proposta que dialogou com a maioria do Parlamento. E ela é um avanço em relação
à proposta anterior que nós tínhamos que era a emenda Ibsen, que significava
uma distribuição muito maior dos royalties do petróleo. O acordo fechado no
Senado já foi um acordo que avançou, que permitiu que houvesse uma distribuição
melhor, mais equilibrada”, avaliou Maia.
Questionado se, ao contrariar o Planalto na votação, os parlamentares
não estariam manifestando uma perda de apoio ao governo Dilma, Maia
desconversou. “O Congresso não abdicou do seu direito e da sua prerrogativa de
votar a partilha dos royalties. Isso é que é importante. Agora nós entramos
numa outra fase que é a análise que o governo deve fazer, os vetos que deve
produzir, e como esses vetos deverão ser encarados e discutidos pelo Parlamento
no futuro."
Proposta da Câmara
Com intuito de diminuir as possíveis distorções da divisão dos recursos
dos royalties do petróleo entre Estados e municípios produtores, Zarattini
havia decidido nesta terça-feira (6) recalcular a distribuição, aumentando a
destinação para os Estados produtores.
O aumento para os Estados seria percebido ao longo dos anos, pela
proposta de Zarattini. O deputado trabalhou com as projeções das distribuições
de 2011 até 2020. Na primeira versão do projeto dele, os Estados produtores
ficariam, em 2020, com 11% do recebimento dos royalties ante os atuais 26,25%.
Com a mudança, em 2020, os Estados produtores vão receber 20%.
Atualmente, a divisão é a seguinte: 30% dos royalties ficam com a União;
26,25% com os Estados produtores; 26,5% com os municípios produtores; 8,75% com
os municípios afetados (que sofrem com carga e descarga da produção), e o
restante, 8,75%, é dividido entre os todos os Estados e municípios, conforme
preveem as regras do FPM (Fundo de Participação dos Municípios) e do FPE (Fundo
de Participação dos Estados), que se baseiam em indicadores sociais para pagar
mais aos Estados e municípios mais pobres em detrimento dos mais ricos.
A nova proposta de Zarattini previa que, em 2013, que a União fique com
20%; Estados produtores, 20%; municípios produtores, 13%; municípios afetados,
7%, e os 40% restantes serão divididos igualmente entre todos os Estados e
municípios, sendo 20% pelas regras do FPM e 20% pelas regras do FPE.
O aumento dos Estados só foi conseguido pela diminuição do que era
destinado aos municípios produtores. Hoje, eles recebem 26, 25%. Em 2020,
receberão 4%. Na proposta anterior, Zarattini estipulava 11% para os municípios
produtores.
Com relação à participação especial, o texto de Zarattini alterou pontos
do acordo fechado com a equipe econômica do governo em 2011 e reduziu ainda
mais a parcela da União. O acertado era de que, já em 2013, a participação
especial do governo cairia de 50% para 42%, mas Zarattini baixou para 40% como
percentual, mas até 2020, o percentual será de 46%.
Presidente Kennedy
(ES)
Com 11 mil habitantes, o município de Presidente Kennedy, no sul do
Espírito Santo, é o que mais recebe royalties do petróleo em todo o Estado. No
atual mandato, o município arrecadou cerca de R$ 508 milhões (de janeiro de
2009 a junho de 2012), segundo a prefeitura. Mas, mesmo com R$ 315 mi de
royalties do petróleo em caixa, cidade capixaba tem falta de água e esgoto.
Os Estados e municípios produtores terão o montante em participação
especial reduzido para 30% e 7%, respectivamente a partir de 2013. Até 2020,
quando chegarão a 20% para os Estados produtores e de 4% para os municípios
produtores.
Já os não produtores passarão a receber, já em 2013, 23% dos recursos e, em 2020 receberão 30%. Os recursos da União e dos entes não produtores terão como destino aos investimentos em educação.
Já os não produtores passarão a receber, já em 2013, 23% dos recursos e, em 2020 receberão 30%. Os recursos da União e dos entes não produtores terão como destino aos investimentos em educação.
Educação
Enquanto o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, pedia todo o
recurso dos royalties do pré-sal e do pós-sal para a educação, o relator da
Câmara acolheu parte do pedido.
Para os royalties obtidos com a exploração de novos poços, pelo regime
de partilha, o recurso vai todo para a educação, seja o percentual da União,
dos Estados e municípios produtores ou não. Zarattini, porém, quis ressalvar a
utilização independente do recurso dos Estados e municípios produtores e não
vinculada aos investimentos em educação, isso em poços já licitados.
Nenhum comentário:
Postar um comentário